segunda-feira, 11 de abril de 2011

Maílson da Nóbrega fala a radiologistas

Apresentarei, na JPR, uma visão otimista de futuro


Maílson da Nóbrega foi ministro da Fazenda de janeiro de 1988 a março de 1990, período considerado como um dos mais difíceis da Economia brasileira. Em sua gestão foram dados os passos para a abertura da Economia, as privatizações e a modernização das finanças nacionais.

Depois de deixar o governo, passou a se dedicar às atividades de consultor; criou, em 1997, a Tendências Consultoria Integrada. Passou a escrever colunas em grandes jornais e revistas e publicou quatro livros – o último, lançado em 2010, é uma autobiografia.

Maílson será, no dia 28 de abril, um dos palestrantes do Módulo de Gestão e Ética da JPR’2011. Sua participação é patrocínio e iniciativa da Medical Systems, e reflete a constante preocupação da empresa com o acesso do radiologista à informação e ao conhecimento para evolução do processo de gestão das suas clínicas e centros de diagnósticos.

O ex–ministro concedeu esta entrevista ao Jornal da Imagem para falar de sua palestra, do novo livro e das dificuldades enfrentadas quando ocupava um cargo de responsabilidade na então hiperinflacionária Economia brasileira, entre outros assuntos. Com muita inteligência e dinamismo, mostra que não foi à toa que um paraibano nascido em 1942, filho de alfaiate que começou a trabalhar aos dez anos como descastanhador de caju, chegou a um dos postos mais importantes da Economia de seu país e é hoje um dos economistas mais respeitados dentro e fora dele.
Jornal da Imagem – O senhor apresentará a palestra Perspectivas da Economia brasileira durante a 41ª Jornada Paulista de Radiologia. Que tipo de informação podemos esperar em sua apresentação?

Maílson da Nóbrega – Procurarei mostrar um panorama geral da economia mundial e brasileira, indicando que a crise de 2008 mudou de natureza, de uma crise financeira para outra de endividamento público em muitos países ricos, especialmente os da Europa, que poderão viver longos anos de baixo crescimento, com exceção talvez da Alemanha. Em seguida, indicarei as razões pelas quais o Brasil atravessou bem a crise e apontarei as tendências da economia para 2011. Apresentarei cenários para o governo Dilma e concluirei com uma visão otimista de futuro, baseada nas transformações institucionais dos últimos anos.

JI – Ainda que Economia não esteja no foco de atuação dos médicos, claramente ela influencia todo e qualquer mercado. A que aspectos eles podem estar frequentemente atentos, no dia a dia, para conseguir administrar e gerir seus bens ou meios de renda com mais segurança?

Maílson – De um modo geral, é preciso ler atentamente a mídia especializada, que hoje no Brasil fornece um bom conjunto de informações. Particularmente importante é estar ligado nas tendências de indicadores básicos como inflação, juros e taxa de câmbio, pois eles têm influência nas decisões de poupar e investir, importar equipamentos e assumir dívidas. Quem investe no mercado financeiro geralmente tem acesso a relatórios econômicos de boa qualidade, preparados pelas instituições financeiras que administram os recursos. Algumas delas convidam os clientes para palestras com especialistas, as quais podem ser úteis para se informar e tirar dúvidas.

JI – O que o senhor acredita que falta para que a Saúde brasileira, sobretudo a pública, comece a se desenvolver e seja vista internacionalmente, como a Economia tem sido nos últimos anos?

Maílson – A Economia tem chamado a atenção de investidores e analistas do exterior por seu potencial de crescimento, pela percepção de que temos uma democracia consolidada e pela constatação de que diferentes governos conduzem políticas econômicas responsáveis. Isso torna o Brasil mais transparente e previsível, que são dois elementos fundamentais para avaliar riscos e para tomar decisões de investir. O fato do País ter resistido bem à crise de 2008 reforçou a percepção de solidez da economia e de nossas instituições políticas e econômicas. O mesmo raciocínio não pode ser aplicado à Saúde. Ainda seremos vistos talvez por décadas pelas deficiências naturais de um país em desenvolvimento. Nos próximos anos, pode–se prever um aumento dos gastos de Saúde, seja porque o setor público será obrigado a despender uma proporção anual do PIB no setor, seja porque o crescimento da classe média sinaliza forte e continuada expansão dos planos de saúde oferecidos pelo setor privado.

JI – Em novembro, o senhor lançou sua autobiografia, intitulada Além do Feijão com Arroz, pela Editora Civilização Brasileira. De onde surgiu a iniciativa de contar sua história e como foi o desenvolvimento desse trabalho?

Maílson – A ideia de que eu deveria escrever minha história foi dada pelo jornalista Carlos Alberto Sardenberg, quando da longa entrevista que lhe concedi em 1999 para a Revista Playboy. Mais recentemente, percebi a divulgação de versões nem sempre fiéis de momentos difíceis dos governos de que participei. Achei que era chegada a hora de dar minha versão, baseada em boa parte nas cópias que guardei de documentos importantes do período. Meus artigos e livros foram escritos por mim mesmo, mas desta vez optei por confiar a tarefa a outras pessoas, pelas razões que conto na obra. O projeto foi liderado pela jornalista Louise Sottomaior e contou com a participação de um jornalista de Economia, Josué Lionel, e de um professor de História Econômica da FEA/USP, Alexandre Saes. O trabalho consumiu 14 meses de pesquisas e entrevistas comigo e com outras pessoas. Carlos Alberto Sardenberg escreveu o prefácio e Fernando Henrique Cardoso preparou um belo texto para a contracapa.

JI – Podemos dizer que hoje a inflação brasileira está sob controle, longe do panorama dos anos 80, hiperinflacionário. Podemos atribuir isso a certo amadurecimento da Economia? O Brasil, finalmente, cresceu?

Maílson – O processo hiperinflacionário dos anos 1980 é página virada. Resultou de um conjunto de circunstâncias que dificilmente se repetirão, incluindo as dificuldades associadas à exaustão do modelo de desenvolvimento baseado na substituição de importações e na ampla intervenção estatal na economia. O atraso institucional das finanças públicas, que permitia por vias tortas o financiamento do déficit público pelo Banco Central, também ficou para trás. Tenho a honra de ter participado das ações que puseram fim a esse atraso, como conto no livro. O Brasil dispõe hoje de instituições que permitem detectar os riscos de descontrole inflacionário, particularmente uma democracia consolidada – que permite a circulação das ideias –, uma imprensa livre e independente, e um Banco Central com autonomia operacional para combater eficazmente surtos de inflação. Mais importante, a sociedade brasileira se tornou intolerante à alta de preços, o que é certamente uma enorme mudança. Antes, muitos acreditavam em uma lorota, qual seja a de que a inflação tinha um papel no desenvolvimento. Hoje, a inflação alta gera perda de popularidade do presidente da República e do governo. Ser politicamente esperto é não deixar a inflação braba voltar. A legitimidade política dos governantes depende da estabilidade econômica. O Brasil mudou, muito e para melhor.
JI – O sr. viveu dois anos em Londres, na década de 80, e pôde acompanhar regularmente a liderança de Margaret Thatcher. Que lembranças guarda dessa época? Também podemos afirmar que a Europa de hoje é mais madura?

Maílson – Extraí lições valiosas desse período. O Reino Unido passava por uma grande transformação, sob a liderança de uma mulher extraordinária, dotada visões de mundo avançadas, de firmeza e de liderança política para levar a cabo profundas mudanças institucionais. Essas mudanças contribuíram para reverter o longo declínio da economia britânica e devolveram ao país a capacidade de crescer e de exercer influência no cenário mundial. Minha estada em Londres contribuiu para firmar convicções sobre os problemas da intervenção excessiva do Estado na Economia e o valor de uma Economia orientada pelo mercado, fundada em sólidas instituições.

JI – Quais são suas atividades hoje na Tendências Consultoria Integrada?

Maílson – Sou um dos sócios fundadores da empresa. Participo de quase todas as suas atividades, particularmente das inúmeras discussões internas sobre a evolução e os riscos da conjuntura econômica e política, e da situação internacional. Divido meu tempo entre a Tendências, as reuniões de conselhos de administração de empresas de que participo, as palestras que faço no Brasil e no exterior, a preparação de artigos e a entrevistas.

Fonte de Informação - Sociedade Paulista de Radiologia

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