terça-feira, 27 de março de 2012

Enciclopédia Britânica deixa de ser impressa. Papel? Qual papel?


Passados 244 anos, a grande referência enciclopédica da cultura ocidental vai acabar em papel. O acesso online será grátis durante uma semana.

Durante mais de dois séculos, a Enciclopédia Britânica foi a referência do conhecimento no mundo ocidental. Na altura em que a informação não estava ao acesso de todos através da internet, os miúdos distinguiam-se entre aqueles, os ricos, que tinham em casa os volumes pretos debruados a dourado, e os remediados, que iam tirar dúvidas ao World Book ou a outros calhamaços de segunda categoria.

Democratizado o conhecimento na era digital, a Enciclopédia Britânica, esse símbolo de status, tinha de se adaptar aos tempos modernos, e esta semana anunciou que vai fechar a loja no que toca a edições impressas. De acordo com a empresa detentora dos direitos, após 244 anos a tirar dúvidas a pessoas de todas a idades, que podem ir desde a metafísica até à família das solanáceas, os 32 volumes vão deixar de estar disponíveis em papel assim que o stock actual se esgotar. E já só restam quatro mil exemplares.

Enquanto muitos explicam o fim da Britânica com a expansão da internet, mais concretamente com a Wikipédia que, além de ser grátis, pode ser actualizada em tempo real, o presidente da empresa sedeada em Chicago, Jorge Cauz, desmente esse argumento. “Isto não tem nada a ver com a Wikipédia ou o Google, tem a ver com o facto de agora a Britannica vender os seus produtos digitais a um maior número de pessoas”, afirmou em declarações à Associated Press.

Se assim é de facto, por que razão não conseguiram antever a migração para a plataforma digital? Segundo o “Guardian”, a Britânica tem cerca de 100 mil artigos. Já a Wikipédia, lançada em 2001, conta com 3,7 milhões e está avaliada em cinco mil milhões de dólares. A Britannica está muito longe desse valor.

A enciclopédia poderá ter caído no erro de se valer do estatuto, não se adaptando à era digital por preguiça ou apego ao passado. Seja por que motivo for, a ironia é que a Britânica, publicada pela primeira vez em 1768, em Edimburgo, na Escócia, poderia ser hoje o que é a Wikipédia, ocupando o espaço da enciclopédia online criada por Jimmy Wales e Larry Sanger. Tinha o espaço, os conteúdos e a credibilidade. Porém, nada fez.

Segundo Jorge Cauz, o melhor ano em termos de vendas para a Encyclopaedia Britannica Inc. foi em 1990, quando 120 mil conjuntos foram vendidos. O número caiu para 40 mil em 1996 e resvalou para apenas oito mil em 2010 (preço de venda: 1395 dólares, pouco mais de mil euros). “As vendas das enciclopédias impressas foram insignificantes durante vários anos”, afirmou o presidente da empresa. “Sabíamos que isto ia acontecer”, admitiu, sublinhando que “uma enciclopédia impressa se torna obsoleta no minuto em que é impressa.”

Para assinalar o fim da edição impressa, a empresa está disponibilizar acesso grátis aos seus conteúdos online até à próxima terça-feira. A versão digital da Britânica (britannica.com) serve actualmente mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo. Também está acessível em dispositivos móveis e tem vindo a tornar-se cada vez mais interactiva, permitindo aos utilizadores enviar comentários aos editores. Para ter o acesso completo é necessário pagar uma anuidade de 70 dólares.

Com milhares de contribuições de especialistas do mundo inteiro, incluindo alguns prémios Nobel e antigos líderes como Bill Clinton ou Desmond Tutu, a Britânica conta com cerca de 100 editores.

Fonte de Informação - I informação

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